Sobre habilidades/competências para atuar com design (UX e UI) em equipes multidisciplinares
Ubiratan Silva, M. Sc
Sobre habilidades/competências para atuar com design (UX e UI) em equipes multidisciplinares
Ubiratan Silva, M. Sc

O título deste artigo é basicamente o assunto que abordei em minha dissertação de mestrado em design estratégico. Meu interesse era entender quais habilidades (competências) são necessárias para atuar com um bom nível de desempenho em design digital, normalmente integrando equipes multidisciplinares, pois não conheço nenhuma profissional que consigo desenvolver algo completamente sozinho, ou se existe deve estar em extinção.
Cada vez mais para enfrentar os desafios de uma sociedade complexa e digital temos que nos alias com diferentes áreas de conhecimento para tentarmos atender e resolver problemas do cotidiano das pessoas. Trazendo essa visão para o microcosmo do desenvolvimento de softwares/hardware o desafio cresce em dificuldade por apresentar um novo mundo em efervescente transformação e evolução aonde os conceitos do mundo real precisam ser revistos e adaptados.
Mas é um equívoco pensar que basta ser um nerd viciado em estudar, e conhecer teorias e aspectos técnicos da profissão de designer que o sucesso será garantido. O conhecimento técnico é apenas um dos pilares de habilidades que um profissional precisa desenvolver e manter atualizado para ser capaz de entregar soluções de bom desempenho.
As ferramentas evoluem e são lançadas novas a cada dia, os instrumentos, técnicas, processos e métodos de design digital estão sob influência dessa forte transição tecnológica em que vivemos. Nessa área não há espaço para acomodação com o conhecimento adquirido, o que precisa é ter sede de aprender, o que considero uma das principais habilidades, ou skills, ou competência de um designer. Possuir essa sede de aprender é uma competência essencial de quem trabalha com tecnologia e design, é preciso fazer desta incessante busca por conhecimento um hobby, como que se cada conhecimento novo adquirido fosse como um item de uma uma coleção.
Eu considero a sede de aprender uma habilidade master que implica na mobilização de outras competências como, persistência, formas de coletar e organizar informações (pesquisa), interesse por passar por processos mais de uma vez para fixar conhecimentos e enriquecer sua fonte de referências e cases, interesse em participar de eventos e trocar conhecimentos nos mais diferentes canais de mídia disponíveis e uma vontade instintiva de experimentar e explorar, mas também de testar e definir.
Então digamos que acompanhar a evolução dos métodos, técnicas e ferramentas de design é o mínimo que se deveria fazer para se construir uma carreira em design digital.
Mas como eu dizia, o aspecto técnico de uma profissão é só uma parte pequena do conhecimento e habilidades necessárias para o bom desempenho. Um designer sempre teve e cada vez mais terá o ser humano como usuário de suas criações, o user centered design no meio digital é a base referencial, e para atender esse usuário específico o designer precisa lembrar que também faz parte da mesma espécie (humanos).
Além disso precisa compreender que as necessidades da sociedade complexa e conectada em redes (Morin e Castels) exige que diferentes áreas de conhecimento de conectem para construir/conceber algo maior e ao se conectar surgem as equipes multidisciplinares. espaços de prática e trabalho que exigem além do conhecimento técnico, competências relacionais e comportamentais.
Comportamentais, pois muitas competências para serem desempenhadas precisam de uma atitude pessoal, característica de comportamento que só dependem do indivíduo como curiosidade por exemplo.
Relacionais, pois sim estamos em uma sociedade em rede que se abre para a possibilidade de trabalho interconectado e para aumentarmos a nossa conectividade e efetividade como profissionais precisamos melhorar muito nossa capacidade de interpretação, comunicação e expressão e isso envolve competências em relação a outros, que facilitem as relações e minimizem possíveis atritos.
Estudos de diferentes áreas do conhecimento (psicologia, sociologia, comunicação) apontam a habilidade de se relacionar como competência essencial para o sucesso profissional e pessoal nestes novos tempos que vivemos e isso envolve mais uma vez conhecer a si mesmo, conhecer pessoas e estudar comportamentos.
No design se fala muito em conceitos como em empatia, em pesquisa com usuários, etnografia, em colocar o usuário no processo de criação da solução como elo-chave. Para isso o designer precisa saber ouvir não somente o usuário como seus colegas de equipe, ser gentil, conquistar confiança, demonstrar empatia e identificação com o usuário e problema, ser bom observador, ser humilde e inclusivo.
Todas estas habilidades aqui citadas não são exclusividades para se atuar como designer, mas sim para se atuar com sucesso em qualquer atividade urbana moderna em nossa sociedade atual, visto que, cada vez mais, estamos inseridos em equipes multidisciplinares presenciais e/ou distribuídas (remotas).
Em estudo rápido que realizei na minha base de mais de 29 mil conexões de redes sociais e utilizando um questionário em redes sociais eu perguntei para meus colegas que competências eles julgavam necessárias para atuar como designer. O resultado e o engajamento do pessoal na pesquisa foi muito interessante e com mais de 300 respostas eu selecionei as 42 competências mais citadas, o resultado está a seguir.
Competências que um bom designer deveria ter citadas e argumentadas pelos designers na pesquisa.
1. Curiosidade, 2. Coragem, 3. Humildade, 4. Vontade de aprender sempre, 5. Confiança em si mesmo, 6. Resiliência, 7. Paciência, 8. Adaptabilidade, 9. Capacidade de argumentação, 10. Velocidade, 11. Ousadia, 12. Bom senso, 13. Empatia, 14. Bom gosto, 15. Sociabilidade, 16. Senso estético, 17. Consciência, 18. Objetividade, 19. Criatividade, 20. Persistência, 21. Ética, 22. Simplicidade, 23. Storytelling, 24. Tomada de decisão, 25. Mente aberta (despreconceito), 26. Empreendedorismo, 27. Saber Ouvir, 28. Senso Crítico, 29. Faro Investigativo, 30. Facilitação, 31. Colaboratividade, 32. Comunicação, 33. Adequação Metodológica, 34. Organização, 35. Visão macro, 36. Detalhismo, 37. Foco, 38. Visão de negócios, 39. Inclusivo, 40. Desapego, 41. Autodidatismo, 42. Didática
Dessas quarenta e duas competência citadas, se usarmos como base as categorias: competência técnica, competência comportamental, e competência relacional, a tabela deveria ficar assim:
[INSERIR IMAGEM AQUI]
Isso significa aproximadamente que para os entrevistados na pesquisa, das 42 competências citadas:
- 66,5% citaram competências consideradas comportamentais
- 24 % citaram competências relacionais
- 9,5 % citaram competências técnicas
Esse resultado aponta alguns indícios de como os designers brasileiros percebem as competências necessárias para o desempenho de sua função e que cada vez mais as competências comportamentais e relacionais estão sendo percebidas como importantes e privilegiadas em relação às competências técnicas.
Entende-se que uma competência comportamental ou relacional falha possa colocar todo um conjunto de competências técnicas no mau uso.
Claro que se trata de um resultado limitado a nível metodológico e que não se recomenda usar como generalização, mas com certeza aponta uma ideia de como os designers percebem essas questões no momento atual em que o design digital, UX (User eXperience) e UI (User Interface) recebem uma imensa valorização no mercado de tecnologia e negócios.
Este artigo terá uma parte 2 sobre o outro questionamento da pesquisa, o que não ser para atuar como designer em equipes multidisciplinares.
Digital Design Lead / Doutorando em Design UFRGS / M. Sc. Mestre em Design / Professor / Consultor / Liderança em Design / Design
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